Você já reparou em algumas imagens de selos e certificações nas embalagens de café? Vamos entender o que elas significam?
Acima de tudo, a embalagem é a conexão entre o produto e o consumidor e justamente por ser um instrumento atrativo (tanto pelo design, como pelas informações), é um meio de promoção do produto. Sendo assim, suas qualidades costumam ser destacadas.
Atualmente, o conceito de qualidade vai além do produto. A sustentabilidade e valorização humana, por exemplo, são cada vez mais considerados.
Essa busca pela melhoria contínua, impulsiona novas tecnologias e processos nas produções agrícolas e alguns programas são criados para esse engajamento.
Desses programas, os selos surgem como a identidade visual das certificações, que podem ser consideradas como valor agregado ao produto. Vamos conhecer quais são os principais utilizados nos cafés.
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1.SELOS ABIC
A Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC) representa as indústrias de torrefação e moagem do país, e atua para melhorias do setor.
Em 1985, motivado pela baixa qualidade e adulterações no produto, o consumo per capita de cafés caiu em torno de 50% no Brasil, prejudicando drasticamente o mercado.
Posteriormente, em 1989, foi criado o Selo de Pureza ABIC, promovendo inovações para a melhoria de qualidade. Os desdobramentos desse programa reverteu os baixos índices de consumo e o modelo tornou-se referência para a Organização Internacional do Café (OIC), sendo adotado também em outros países.
1.1 SELO DE PUREZA ABIC
O selo pertence ao Programa Permanente de Controle da Pureza do Café. Está relacionado à qualidade e segurança alimentar, pois certifica que o produto é puro, sem adulteração ou misturas. São realizadas análises em amostras para essa qualificação.
1.2 SELOS DE QUALIDADE ABIC (PQC)
O Programa de Qualidade do Café (PQC), classifica-o em quatro categorias, distintas por suas características sensoriais e qualidade: Extra Forte, Tradicional, Superior e Gourmet.
Sendo assim, para obter o direito de informar o selo na embalagem, o café deverá ser enviado para classificação e a empresa solicitante será auditada, para que comprove também, as boas práticas de fabricação em todos os processos de produção, armazenamento e distribuição.
1.3 SELO CAFÉS DO BRASIL
Você sabia que o símbolo do grão brasileiro tem a ver com futebol?
O I.B.C. (Instituto Brasileiro do Café) foi patrocinador da C.B.F. (Confederação Brasileira de Futebol), e o ícone foi criado na Copa do Mundo de 1982, para promover os cafés brasileiros.
Tornou-se oficial nas sacas de cafés do Brasil, fortalecendo a marca e criando identidade visual pelo mundo todo.
A cor vermelha no S da palavra Cafés, é uma referência à diversidade dos grãos produzidos aqui.
No ano de 2000, a imagem foi registrada pela ABIC no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) e para utilizá-la, é preciso ser associado à ABIC, além de respeitar as instruções do manual de uso da marca.
2.BSCA (Brazilian Specialty Coffee Association)
A Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, em inglês) é a entidade que regulamenta os padrões para cafés especiais no país. O selo da BSCA possui numeração individual e um QR Code para consulta, conferindo rastreabilidade total ao produto.
Para adquirir o Selo de Qualidade BSCA, o produtor deverá ter sua propriedade certificada, e também ser associado na categoria produtor. Após codificação, avaliação e aprovação da amostra de café pelos classificadores, receberá o certificado BSCA.
Os selos para as embalagens serão fornecidos aos compradores do lote certificado, controlados pela quantidade comprada do café avaliado.
3. SELO ORGÂNICO
Certifica que o produto foi cultivado sem o uso de nenhum adubo químico ou agrotóxico, nem radiação ou produto geneticamente modificado. Também preconiza práticas de manejo que promovam a harmonia ecológica do sistema.
É concedido por meio de auditorias, de certificadoras credenciadas pelo Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (SisOrg), que oferecerão orientação aos produtores quanto à produção e comercialização, dentro dos padrões técnicos para produção orgânica.
A certificação é feita, após visitas periódicas de inspeção, tanto na unidade de produção agrícola como nas unidades de processamento.
Conheça a lei sobre agricultura orgânica no Brasil, lendo aqui
4. CERTIFICAÇÕES RAINFOREST ALLIANCE e UTZ
A UTZ surgiu em 2002 na Holanda como Utz Kapeh, que significa “Bom Café” na língua maia. Foi fundada por um cafeicultor belga-guatemalteco, e por uma torrefadora holandesa, com o objetivo de implantar a sustentabilidade em larga escala no mercado mundial.
Voltada à agricultura de café, chá, cacau e avelãs, a certificação segue um conjunto de critérios sociais e ambientais, para práticas de cultivo responsável e gestão agrícola eficiente.
Foi considerado o maior programa de cultivo sustentável de café e cacau no mundo.
A Rainforest Alliance é uma organização internacional sem fins lucrativos, com sede em Nova York e Amsterdã e abrange inúmeras produções agrícolas. Articula a responsabilidade dos negócios em produções agrícolas, florestais ou turísticas.
É orientada por princípios básicos, como sistema eficaz de planejamento e gestão, conservação da biodiversidade e dos recursos naturais, assim como melhores condições de vida e bem-estar das pessoas.
No Brasil, o café é uma das principais agriculturas chanceladas pela Rainforest Alliance, principalmente nos estados de Minas Gerais e São Paulo.
Em 2018, ocorreu a fusão da UTZ e Rainforest Alliance, e um novo protocolo global deverá ser anunciado ainda em 2020. A nova organização seguirá apenas com o nome e marca Rainforest Alliance, porém até a conclusão dessa união, tanto os processos de certificação, como o selos, permanecem paralelamente.
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5. CERTIFICAÇÃO 4C
Presente em países como Colômbia, Brasil, Uganda, Kenya, Vietnam, Indonésia, Guatemala, entre outros, o Código Comum para a Comunidade Cafeeira (4C) surgiu na Alemanha como um programa de valorização e suporte ao setor.
A 4C Services é responsável por operar e garantir a conformidade com o código de conduta 4C (4C Certification System), no entanto, conta com instituições certificadoras para auditorias e capacitação.
Baseado em sustentabilidade, busca o desenvolvimento e equilíbrio do meio ambiente, capacitação e profissionalização. Como resultado, surgem melhorias na produção, processamento (pós-colheita) e comercialização de café verde.
6. INDICAÇÃO DE PROCEDÊNCIA (I.P.)
A I.P. de um produto tem a ver com o território (cidade, estado, país ou região) que se tornou famoso por sua tradição em determinado produto ou serviço.
Diversas regiões brasileiras são produtoras de cafés, porém o selo de Indicação de Procedência expressa que aquela região se especializou para oferecer um produto de qualidade e diferenciado sensorialmente. Consequentemente, agrega valor e inibe o uso indevido do nome da região.
Para adquirir a licença aos selos na embalagem, o produtor deverá cumprir os requisitos das associações pertinentes à sua região, como pontuação mínima de cafés especiais e responsabilidade sócio-ambiental, por exemplo.
Atualmente, o Brasil conta com quatro regiões classificadas como I.P. : Alta Mogiana (SP), Região de Pinhal (SP), Oeste da Bahia e Norte Pioneiro do Paraná.
7. DENOMINAÇÃO DE ORIGEM (D.O.)
No Brasil, o processo de Denominação de Origem é feito pelo INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) . Após um processo laborioso de pesquisas, reconhece o território, demarcado por produzir um produto de características exclusivas.
Assim sendo, quando um produto faz a transição de I.P. para D.O., as normas e controles ficam mais específicos.
O selo de D.O. do café, portanto, valoriza a produção daquela região, por seus traços únicos. Isto vai além dos fatores naturais do terroir (clima, solo, relevo, altitude), pois leva em conta a tecnologia e o fator humano empregado, o que confere maior peculiaridade.
Para ter direito ao selo, o produtor necessita seguir alguns critérios, como por exemplo, identidade e qualidade e rastreabilidade do café.
Até o momento, o Brasil conta com apenas duas regiões certificadas como Denominação de Origem: Cerrado Mineiro e Mantiqueira de Minas.
8. CUP OF EXCELLENCE (CoE)
Concurso realizado em vários países, no intuito de reconhecer os esforços dos produtores, e premiá-los.
No Brasil, é organizado anualmente pela BSCA, com apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e da Alliance for Coffee Excellence (ACE).
Qualquer produtor brasileiro de café arábica pode se inscrever nas diversas categorias, relacionadas ao processamento do Café.
Como resultado, a venda dos cafés vencedores é feita por leilões, e atingem recordes de preços pagos em sacas de cafés, fortalecendo a marca do produtor e a qualidade dos cafés brasileiros no mundo.
9. COFFEE OF THE YEAR (COY)
Outro concurso anual que valoriza os melhores cafés, o Coffee Of The Year foi desenvolvido no Brasil, e premia produtores brasileiros nas categorias arábica e conilon e muitas vezes transforma a vida dos produtores.
Os cafés passam por uma série de avaliações dos especialistas, porém, a fase final do concurso, acontece na Semana Internacional do Café , contando com a votação do público, que degusta os cafés às cegas e elege os finalistas.
Em 2020, os procedimentos do COY precisaram serem adaptados diante do distanciamento social necessário, devido a pandemia do Covid-19. Neste ano, os cafés finalistas serão os aprovados por compradores nacionais e internacionais e a votação popular será realizada em diferentes cafeterias selecionadas.
10.FAIR TRADE
O Selo Fair Trade (Comércio justo) é uma iniciativa da Fair Trade Labelling International, com sede na Alemanha e presente em mais de 94 países produtores e consumidores de diversos produtos, entre eles, o café.
Atua como uma parceria entre produtores e comerciantes, empresas e consumidores e quem valida as conformidades para a certificação Fair Trade é a FLOCERT.
Com o objetivo de estabelecer relações comerciais mais justas, estreita a relação do produtor com consumidor, e, portanto, tem impacto positivo sobre a qualidade dos produtos e sustentabilidade econômica, social e ambiental.
O café tem seu preço mínimo praticável estabelecido, para que não hajam prejuízos com custos médios de produção, por exemplo. Também se aplica uma bonificação sobre o preço de compra, destinada a investimento em projetos sociais.
Para obter a certificação Fair Trade, o produtor deverá ser associado à cooperativas ou associações compostas em sua maior parte de pequenos produtores.
Para o consumidor, significa a consciência de adquirir um produto que foi negociado com práticas de mercado mais éticas.
11.DIRECT TRADE
É a estreita relação entre os elos da cadeia produtiva do Café, principalmente entre produtor e torrefador (e não por associações ou cooperativas).
Em suma, o processo de compra viabiliza mais oportunidades para os agricultores, e a relação direta com os torrefadores promove parcerias comerciais mais sólidas.
Não se trata exatamente de um selo ou certificação, porém, é um conceito, um acordo, com regras específicas, e confiança mútua.
Sendo assim, o consumidor reconhecerá o Direct Trade na embalagem do Café, quando a torrefação comunica de forma específica a origem dos grãos e as pessoas que o produziram.
Dessa forma, sugere que produto é oriundo de valorização do pequeno produtor, consequentemente, fundamentado em princípios éticos que amadurecem o mercado.
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Em outras palavras, os selos e certificações nas embalagens pressupõem qualidade, atestam procedência, pureza e produção responsável. Boas práticas de sustentabilidade econômica, social e ambiental, que cada vez mais, os consumidores tomam como princípios.
Certamente, é necessário o investimento de capital e bastante trabalho para implementá-los, o que muitas vezes se torna inviável para pequenos produtores. Alguns dos programas já receberam fortes críticas por serem onerosos, e sofreram até mesmo acusação de fraudes e desvios de conduta.
Concluindo, excluindo-se esses casos, inegavelmente são conquistas de melhorias nos processos e produtos. Padrões que profissionalizam e beneficiam toda a cadeia produtiva, especialmente o consumidor, com a garantia da melhor procedência de seu café.
Barista, Especialista em Rotulagem de Alimentos.
Graduada em Processos Gerenciais e Tec. em Nutrição.
Pós-graduada em Negócios da Gastronomia e em Docência no Ensino Superior.
Atua como consultora em alimentação e rotulagem nutricional na PróMenu Consultoria, autora do Projeto @Cafeística no Instagram